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terça-feira, 31 de julho de 2012

Mensalão: 'O melhor caminho teria sido o impeachment', diz ex-líder da oposição

Fora do Congresso desde que fracassou na tentativa de se tornar senador, em 2010, o ex-deputado federal José Carlos Aleluia (DEM) hoje preside o diretório de seu partido na Bahia. Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, ele era líder da oposição na Câmara. Junto com colegas de PSDB e PPS, avaliou que a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria desnecessária porque o petista não conseguiria se eleger no pleito de 2006. A estratégia era manter Lula e o PT sangrando até a disputa eleitoral. Aleluia hoje não tem mandato por consequência da popularidade do homem cuja pele ajudou a salvar.
Às vésperas do julgamento do mensalão, o democrata diz que a oposição errou ao poupar Lula e admite que a avaliação feita na época foi equivocada. Leia trechos da entrevista.
Como a oposição decidiu não pedir o impeachment do presidente Lula, apesar das evidências do mensalão? Nós avaliamos que não seria bom para a democracia brasileira que houvesse a cassação de praticamente dois presidentes seguidos. Muitos dos deputados da época, inclusive eu, tínhamos cassado o presidente Fernando Collor. Era muito recente. E a avaliação era de que poderia ser ruim para a jovem democracia brasileira que se viesse a cassar outro presidente. É bom registrar também que isso foi uma decisão colegiada. Nós nos reunimos na liderança do DEM no Senado. Foi depois daquele momento crucial do depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios. Ele deu o número da conta no exterior com a qual o PT havia pago a campanha, claramente configurando um crime continuado: começou durante a eleição e se manteve nas entranhas no governo. Nós entendemos que seria melhor para o país cumprir o mandato de presidente. A ideia era essa: 'Vamos cumprir o mandato e a democracia fará a substituição'.
A falta de grande pressão popular pelo impeachment influenciou? Não havia clamor nem a favor nem contra o presidente. Lula não possuía o prestígio que terminou tendo depois. Ele tinha os sindicatos e movimentos sociais que já estava começando a arregimentar, mas não se podia dizer que chegaria a uma popularidade tão grande. De qualquer forma, não foi esse o fato determinante na nossa posição.
O que pesou foi só a preocupação com a democracia, então? O país tem pouco histórico de presidentes que concluíram o mandato sem incidentes maiores. Até Juscelino sofreu tentativa de golpe. Fernando Henrique não teve, Itamar assumiu também num regime de total tranquilidade, depois vinha Lula, que era um operário. Nós tomamos a decisão de não estressar a democracia. 
Não seria inadequado tolerar irregularidades quando elas são evidentes? Foi uma decisão política. Avaliando hoje, eu diria que foi um erro. Mas na época nós estávamos diante de um estresse vivido com a cassação de Collor. O Sarney havia sido eleito indiretamente. Diretamente, FHC era o primeiro presidente que cumpria o mandato eleito pelo povo. Pós-fato, eu diria que não foi a melhor decisão.
O senhor teve um resultado muito ruim na última eleição de 2010, em parte por causa da influência de Lula e do PT. Em 2005, era impossível prever essa reviravolta? Eu não imaginava que Lula e o PT, com a continuidade de Dilma, levassem o país para esse momento de uma encruzilhada difícil. Estamos caminhando nitidamente para um populismo preocupante de esquerda, com uma economia de estado, o que é muito maléfico para a vida nacional. Eu não esperava que esse período deixasse uma herança tão perversa no Brasil. É preciso que haja uma reação. O movimento de estruturação de poder que o PT faz tem o mesmo comando do mensalão: Lula e José Dirceu. Eu nunca imaginei que o partido fizesse o que está fazendo recentemente, intervindo na economia, em empresa privada, fazendo essa manobra vergonhosa com a entrada da Venezuela no Mercosul, afastando o Brasil do caminho de que nós gostaríamos. Realmente, os males daquela decisão da oposição são muito maiores do que nós avaliamos na época. Na ocasião, eu não pensei assim. Mas hoje não tenho dúvida de que o melhor caminho teria sido abrir o processo de impeachment. 
Pela divisão do Congresso à época, a cassação poderia de fato acontecer? A oposição também cometeu um grande erro naquele período. Nós tínhamos feito a substituição do Severino Cavalcanti, que tinha renunciado. E a oposição não se uniu em torno da eleição do José Thomaz Nonô (PFL-AL) à presidência da Câmara. O PSDB cometeu um erro e apoiou o Aldo Rebelo (PC do B-SP). É evidente que esse era um obstáculo para começar o processo, porque Aldo Rebelo era da base do governo, embora seja uma pessoa que eu admiro muito. A história de um eventual impeachment teria sido totalmente diferente se o Nonô tivesse ganho a eleição, e ele ganharia com os votos do PSDB. Mas o PSDB, equivocadamente, apoiou o Aldo para ter uma posição de vice-presidente na Mesa Diretora.
No fim das contas, a preocupação com a democracia favoreceu um partido que não respeita a democracia? Isso desfavoreceu a democracia. O problema hoje é maior do que as pessoas imaginam, porque o viés do governo é cada vez mais de insegurança institucional. A desindustrialização do país, por exemplo, é muito grave. É querer transformar o Brasil em uma colônia europeia, como muito empresários já têm dito. 
O mensalão era só caixa dois? Mesmo se fosse, caixa dois é crime. O mensalão era caixa dois com dinheiro do governo, crime dobrado. Era uma quadrilha dentro do governo.

Fonte: Veja

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