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terça-feira, 9 de outubro de 2012

“Trabalhamos duro para nos tornarmos referência”, diz Barretto

Presidente do Sebrae desde 2010, Luiz Barretto diz que a instituição tem papel fundamental na transformação do empreendedor de 40 anos atrás, quando o serviço de orientação foi criado; para os próximos anos, a meta é planejar um esforço conjunto para chegar com triunfo aos 50 anos.

Há quatro décadas, o Brasil era outro e, nesse sentido, também o cenário para se abrir um negócio. Além do ambiente, o próprio empreendedor é outra pessoa se comparado ao pequeno empresário de 40 anos atrás. Se antes ele abria uma empresa por necessidade, hoje o faz, na maioria das vezes, por oportunidade e para realizar um sonho. A favor dessa realização, o Brasil vive um momento econômico favorável para melhorar o ambiente de negócios.

"O Brasil é uma estrela no atual cenário econômico mundial". É assim que o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, define o atual ambiente nacional, sem dúvidas um forte contribuinte para o crescimento do pequeno empresário. Desde dezembro de 2010 à frente de uma das instituições mais respeitadas do País, o ex-ministro do Turismo compara o Brasil de hoje com o de quando a empresa foi criada, em 9 de outubro de 1972, data que completa 40 anos nesta terça-feira 9.

Na entrevista abaixo, Barretto destaca o que de mais decisivo foi criado pelo Sebrae em benefício dos empreendedores e o que ainda trava o desenvolvimento desse setor. Em sua opinião, "a urgência em levar inovação à nossa indústria" e a necessidade de "investir na qualificação profissional" são alguns desses fatores. Para os próximos anos, o dirigente planeja um esforço conjunto para segmentar o atendimento  conforme a necessidade de cada público e assim chegar com triunfo aos 50 anos.

Qual a maior mudança que o senhor apontaria no perfil do empreendedore de hoje e o de 40 anos atrás?

O Brasil mudou muito nas últimas quatro décadas e o empreendedorismo acompanhou essas transformações. Uma das principais é a motivação para empreender: antes, o brasileiro abria um negócio próprio por necessidade, por não encontrar um emprego. Hoje, a cada três pessoas que iniciam um empreendimento, duas o fazem por uma oportunidade de negócios. Isso muda completamente a qualidade do empreendedorismo no País.

Os empreendedores de hoje têm um nível melhor de escolaridade e se preocupam mais com a gestão empresarial. Cada vez mais está perdendo força a tese de que o conhecimento adquirido na prática, principalmente em empresas familiares, é suficiente para competir no mercado. E nesse aspecto o Sebrae tem um papel fundamental. Há 40 anos trabalhamos para preparar o pequeno empresário ou o potencial empreendedor para abrir o seu negócio e administrá-lo de uma maneira competitiva e sustentável. Conhecimento é o principal caminho para fazer a empresa crescer e se desenvolver. Outro dado interessante é que nos últimos 10 anos constatamos a participação maior de jovens e de mulheres no empreendedorismo.

Em quatro décadas, o que destacaria de mais revolucionário já criado pelo Sebrae aos pequenos empresários?

O avanço mais importante para o segmento, sem dúvida, foi a criação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, em 2006, que contou com amplo apoio do Sebrae, trabalhando em parceria com os parlamentares e com o Governo Federal. A Lei Geral foi resultado de uma ampla luta do segmento para ter mais apoio e menos burocracia. Com ela, vieram o Simples, que é uma espécie de mini-reforma tributária que favorece os pequenos negócios, e a figura do Microempreendedor Individual. Outro ponto importante é que sempre buscamos aprimorar o atendimento de nossos clientes e isso continua sendo um dos nossos maiores desafios. Mas destaco a evolução que tivemos ao longo de nossa trajetória.

Na década de 90, criamos o Balcão Sebrae para facilitar o atendimento presencial de potencial empresários e empreendedores com dúvidas sobre abertura e a gestão de seu negócio. Com a modernização das possibilidades tecnológicas, nacionalizamos nosso atendimento na internet, pelo site www.sebrae.com.br, e o teleatendimento passou a ter um único número: 0800 570 0800. Em 2006, eram 700 mil teleatendimentos, que passaram a ser cerca de 1 milhão em 2007. E hoje ultrapassam 12 milhões de atendimento via telefone e canais multimídias (e-mail marketing, chats, fóruns) prestados pela Central de Relacionamento. Mais recentemente, o programa Agentes Locais de Inovação (ALI) revolucionou o modelo de atendimento feito pelo Sebrae. Com o ALI, a pequena empresa recebe consultoria personalizada e gratuita de recém-formados treinados pelo Sebrae que dão sugestões de soluções inovadoras para suas empresas.

Como enxerga o cenário político-econômico para o micro empreendedor hoje? Muito mais favorável que há 10 anos, por exemplo?

O cenário para empreender no Brasil mudou muito nas últimas décadas. Antes, o brasileiro abria uma empresa por necessidade, por não ter outra opção para ganhar dinheiro. O mercado de trabalho não tinha a oferta que tem hoje.  Atualmente, a cada três empreendedores que abrem uma empresa, dois fazem isso por oportunidade. O momento econômico favorável vivido pelo País contribuiu para melhorar o ambiente de negócios. Temos um forte mercado interno com cerca de 100 milhões de consumidores, sendo que 40 milhões deles fazem parte da nova classe média. O mercado interno é o foco das micro e pequenas empresas, que não dependem das exportações. Elas representam 99% das empresas brasileiras, empregam mais da metade dos brasileiros com carteira assinada e respondem por aproximadamente 25% do PIB.

O Brasil é considerado um país seguro economicamente, na sua visão, para se iniciar um negócio? Como é esse ambiente em relação a outros países, como os vizinhos da América do Sul?

Sem dúvida, o Brasil é uma estrela no atual cenário econômico mundial. Atingimos recentemente o posto de sexta economia mundial. Temos estabilidade financeira, mais de R$ 350 bilhões de reservas cambiais. Uma economia sólida e um mercado consumidor com mais de 100 milhões de pessoas. É um mercado gigantesco e em crescimento constante. O País melhorou, mas ainda temos imensos desafios pela frente. Cito a urgência em levar inovação à nossa indústria, melhorar a infraestrutura logística, investir na qualificação profissional. Fala-se muito do apagão de mão-de-obra no Brasil, mas temos também que melhorar a gestão para tornar nossas empresas, de todos os portes, mais competitivas.

Qual a maior dificuldade de quem quer empreender hoje?

Pesquisas feitas pelo Sebrae apontam que crédito bancário e capital de giro são as principais dificuldades de se ter um negócio próprio nos primeiros dois anos de vida da empresa, que são os mais críticos. A falta de histórico no mercado dificulta o acesso ao empréstimo bancário para o empreendedor iniciante. A dificuldade diminui na medida em que a empresa vai se estabelecendo. O peso de tributos e impostos também são fatores que podem comprometer o sucesso do negócio. Apesar de ter havido uma melhora no ambiente legal às micro e pequenas empresas, com a ampliação dos limites de faturamento do Supersimples, ainda falta uma legislação que permita uma transição mais adequada dessas empresas quando crescem e saem do Supersimples. Hoje o empreendedor também tem que encarar uma forte concorrência interna e externa. Por isso é importante que ele crie um diferencial para se destacar no mercado, que ele busque a capacitação e a inovação.

O Sebrae é uma das instituições de maior credibilidade no País. De que forma o senhor acha que essa imagem foi conquistada?

Sabemos que não é fácil uma entidade completar 40 anos, ainda mais com esta representatividade no País. Temos uma sede nacional, escritórios regionais em todos os Estados e mais de 700 pontos de atendimento em todo o Brasil. Ao longo de quatro décadas, trabalhamos duro para nos tornarmos referência em orientação e capacitação para empresários de pequeno porte. Além disso, a maioria dos nossos cursos é gratuita e pode ser feita presencialmente ou pela internet. Atuamos em todas as esferas do governo para estimular políticas públicas favoráveis ao empreendedorismo. Nosso trabalho é fruto de parcerias feitas com centenas de entidades privadas e governamentais. Acreditamos que juntos será mais fácil apoiar os pequenos negócios e ajudar o crescimento do nosso País.

Quais seus principais planos para a instituição nos próximos anos de mandato?
Estamos trabalhando pensando nos próximos 10 anos do Sebrae. É o nosso Direcionamento Estratégico. Vamos avaliar cenários e rever estratégias para programar melhor nossa chegada aos 50 anos. O Sebrae está num esforço para segmentar o atendimento de acordo com as necessidades de cada público. Por exemplo, sabemos que o microempreendedor individual costuma trabalhar sozinho, por isso ele não pode passar o dia todo em um curso porque isso significaria perder um dia de faturamento. Assim, estamos trabalhando com esse público com oficinas de curta duração, via internet, e dicas enviadas por celular. O importante é formalizar o maior número possível de negócios, pois se trata de um resgate da cidadania empresarial desses empreendedores. Outra prioridade é aumentar o número de municípios com a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa implementada.

Fonte: BR247

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